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Um Brasileiro em Berlim – João Ubaldo e a sua saga pela Europa

Apesar de eu ter o costume de ler ficções, às vezes é refrescante explorar um livro que foge do comum, especialmente para uma tarde de leitura descontraída. Foi assim que me deparei com a obra do escritor João Ubaldo, que compartilhou sua experiência em Berlim no final dos anos 80, quando foi convidado por uma entidade alemã (DAAD, um programa de intercâmbio alemão focado em artistas) para uma temporada na cidade, vivendo lá com sua família por cerca de um ano.

O autor não apenas relata os eventos de sua vida na cidade, mas também compartilha os sentimentos que o envolviam. Visto que ele esteve lá antes e durante a queda do Muro de Berlim, seus primeiros sentimentos foram de grande agonia, embora tenha apreciado a cidade. Os pensamentos sobre a guerra eram frequentes, mesmo que não fossem expressos diretamente, mas sim em forma de perguntas sobre o valor de tantas mortes, sofrimentos e angústias. Como alguém que também visitou Berlim, confesso que compartilhei muitos desses pensamentos durante minha estadia lá. É um lugar tão belo… Mas é triste que tenha sido construído sobre derramamento de sangue. Nós, que viajamos pela Europa hoje em dia apenas vemos parte de toda a história. João pôde viver ao mesmo tempo de um dos maiores acontecimentos para a liberdade dos extremos de Berlim.

Ele acaba trazendo um tom humorado ao explicar ao peculiaridades brasileiras em relação aos alemães, já que tendemos a deixar as coisas para depois, enquanto os alemães são conhecidos por sua pontualidade. E também, na época, as moedas mudavam de nome quase sempre. Do cruzeiro ao cruzeiro novo, do cruzeiro novo ao cruzado (e todos eles tinham valores diferentes. Ubaldo ironizou isso diversas vezes durante todo o livro. Chegava a ser engraçado)

“Quando se constatou que, para comprar um maço de cigarros o brasileiro tinha de carregar uma mala de dinheiro, criou-se o cruzado novo”.

– Um Brasileiro em Berlim

“no Brasil, não há dinheiro. Há papéis coloridos e moedinhas talvez feitas de restos de panelas.” Ele disse. E lendo isso atualmente, fica muito mais engraçado porque eu sequer estava vivo nessa época.

No entanto, uma das coisas que não me agradou muito na narrativa foi a forma como o autor estereotipou os brasileiros e foi um pouco preconceituoso. Tentei relevar isso considerando a idade e o ano de publicação do livro. Felizmente, esses momentos foram raros, e o restante do livro foi repleto de humor e curiosidades, oferecendo uma coleção de crônicas sobre uma temporada inesquecível fora do Brasil.

Ah, e uma curiosidade bem interessante: Descobri que ele é o pai do Bento Ribeiro, antigo VJ da MTV hahahah. Ele falou muito sobre o Bento, que era uma criança peculiar na época e aprontava bastante.

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